Brasília – A Comissão Nacional da Verdade (CNV) vai investigar as
atividades da chamada Operação Condor, aliança que teria sido
estabelecida formalmente, em 1975, entre as ditaduras militares do
Brasil, da Argentina, do Chile, Paraguai, Uruguai e da Bolívia para
vigiar e até eliminar opositores. Para tanto, a CNV formalizou, na
segunda-feira (17), a criação de um grupo de trabalho (GT) específico
para tratar da questão.
“Quase dois anos antes da formalização da Condor, os seis países da
região fizeram uma reunião secreta em Buenos Aires, em fevereiro de
1974”, disse o jornalista Luiz Cláudio Cunha, especializado na análise
das graves violações de direitos humanos cometidas sistematicamente
pelas ditaduras implantadas nos países do extremo Sul do continente,
inclusive o Brasil.
Com a criação do GT, a comissão poderá abordar alguns fato
controversos. Entre eles, as mortes dos ex-presidentes João Goulart e
Juscelino Kubitschek.
Goulart, que governou o Brasil de 1961 até ser deposto pelo golpe
militar de 1964, morreu em dezembro de 1976, na Argentina, oficialmente
de ataque cardíaco. A versão é contestada por parentes que acreditam em
envenenamento por agentes da Operação Condor.
No caso da morte de Juscelino Kubitschek, na segunda-feira (17), a CNV
recebeu das mãos do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem
dos Advogados do Brasil Seccional Minas Gerais (OAB-MG), William Santos,
um relatório contestando a versão de que a morte teria sido um
acidente. “Eles [OAB-MG] pediram que a gente reabrisse o caso. Agora
vamos analisar toda a documentação e investigar o que foi relatado”,
declarou Cláudio Fonteles, integrante da comissão e responsável por
avaliar a documentação.
Há 36 anos (22 de agosto de 1976) um acidente automobilístico causou a
morte do e ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. A versão
oficial é que o carro, um Opala, do ex-presidente foi fechado por um
ônibus da Viação Cometa, perdeu a direção e se chocou com uma carreta,
no quilômetro 165 da Rodovia Presidente Dutra. JK, como era conhecido,
viajava de São Paulo para o Rio de Janeiro.
O documento entregue à comissão sustenta que a causa do acidente foi um
tiro na cabeça do motorista de JK, Geraldo Ribeiro. Em 1996, 20 anos
após o acidente, o secretário particular de JK, Serafim Jardim,
conseguiu reabrir o caso. Ele acredita que a investigação é necessária.
“O primeiro processo é uma farsa. A atitude da OAB-MG é muito válida”,
disse.
O corpo do motorista foi exumado. Um objeto metálico foi encontrado no
crânio de Geraldo Ribeiro. A exumação foi feita pelo Instituto
Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte. Para a OAB-MG, o motorista foi
atingido na cabeça por um projétil denominado “batente”, de fabricação e
uso exclusivo das Forças Armadas. No entanto, a perícia feita pela
Polícia Civil concluiu que o fragmento de metal era um prego do caixão, e
descartou a possibilidade de ser um projétil. O inquérito aberto após a
morte do presidente ouviu nove, dos 33 passageiros que estavam no
ônibus da Viação Cometa. As fotos dos corpos do presidente e do
motorista também desapareceram da documentação.”
As mortes de Juscelino Kubitschek e João Goulart aconteceram em um
período de cinco meses. JK morreu em 22 de agosto de 1976 e Goulart em 6
de dezembro do mesmo ano.
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