Enquanto no restante do Brasil terminou a colheita de soja e foi
iniciado o plantio para a próxima safra, Roraima tem realidade
diferente. Situado no Hemisfério Norte e com regime de chuvas diferente
das demais regiões, o estado começa a colher o grão agora. Trata-se, no
momento, do único local com oferta de soja no país. A quantidade
plantada na área ainda é pouco representativa no cenário nacional. Mas a
produção, destinada principalmente à exportação, tem potencial para
crescer.
Segundo dados da Expedição Safra, projeto que monitora a
produção de grãos no Brasil e no mundo, com 18 mil hectares cultivados,
o estado colherá 50 mil toneladas este ano. O volume é pequeno no
universo de 86,12 milhões de toneladas de soja previstas pela Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de 2014. Mas Giovani
Ferreira, coordenador do projeto, ressalta a perspectiva de crescimento e
a importância local da atividade.
Ele ressalta que a colheita
prevista para este ano representa 100% de crescimento em relação à da
safra anterior. Giovani cita ainda projeções da Expedição Safra, segundo
as quais em 2019 a área plantada de soja será 120 mil hectares, o que,
calcula, pode resultar em uma colheita de 360 mil toneladas do grão. “É
um impacto grande na economia local, porque a soja tem grande valor
agregado. Tem impacto médio na economia regional e, quando a gente fala
de participação na produção nacional, tem que esperar [o crescimento nos
próximos anos] para avaliar”, comenta.
O coordenador acredita
que a elevação na produção de soja em Roraima pode superar as projeções.
“Pode ser mais do que isso [estimativa], a depender do processo de
regularização de terras”. Há alguns anos, a União iniciou processo de
transferência de terras para o estado de Roraima. Muitos ocupantes estão
às voltas com regularização da titularidade e licenciamento ambiental.
No início de setembro, o Supremo Tribunal Federal determinou a suspensão
das transferências da União até a regulamentação da Lei 10.304/2001,
que trata do assunto.
Segundo Giovani Ferrreira, a melhora na
infraestrutura também pode ajudar na expansão da soja na região. “[O
produtor] precisa de empréstimos para armazéns. Hoje, o número é muito
pequeno. Você colhe e já tem que escoar”, acrescenta. O escoamento tem
sido feito por Manaus ou Itacoatiara.
No caso da capital
amazonense, a 700 quilômetros de Boa Vista, como o porto não tem
estrutura para embarcar grãos em navios, o embarque de 23 mil toneladas
exportadas à Rússia na safra passada ocorreu em sacolas, o que gerou
custo adicional aos produtores. Em Itacoatiara há estrutura para o
embarque, mas é preciso rodar 270 quilômetros adicionais para chegar à
cidade e o porto é particular. “A logística [atualmente] é básica, mas
pode melhorar”, diz Ferreira.
Segundo o produtor rural Geison
Nicaretta, presidente da Comissão Organizadora da Colheita de Soja do
Estado de Roraima, o escoamento ideal seria por Georgetown, capital da
Guiana Inglesa, a 650 quilômetros de Boa Vista e onde há um porto
adequado. Mas, por enquanto, não há asfalto que permita chegar lá.
“Estão sinalizando que vai ter duas hidrelétricas e, quando sair, o
asfalto é um dos requisitos”, informou, referindo-se a projeto debatido
entre o governo brasileiro e a Guiana para a construção das
hidrelétricas em território guianense e uma rota por terra até Roraima.
Geison
explica que, em Roraima, o período de chuvas começa em maio e vai até o
fim de setembro. “A janela de plantio é a mesma dos Estados Unidos. A
gente planta em maio e setembro é a colheita”, explica. No restante do
Brasil, a soja é plantada entre setembro e outubro e colhida em janeiro.
“Quando eles [outros produtores] terminam, nós estamos nos preparando
[para começar]. É vantajoso porque, quando a gente vai comercializar o
nosso grão, no resto do Brasil não está tendo mais soja. Então a gente
pega preços mais elevados. E a nossa soja é convencional não é
transgênica”, diz.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-09/na-contramao-do-pais-roraima-comeca-colheita-de-soja-este-mes
Nenhum comentário:
Postar um comentário