Imagem: mundoafro.atarde.uol.com.br
Um programa que surgiu para “quebrar o silêncio” sobre a violência contra as mulheres. É assim que a apresentadora da Rádio Nacional da Amazônia, Mara Régia, resume o Viva Maria,
programa radiofônico que completa 33 anos neste domingo (14). Desta
vez, a equipe e o público têm um motivo a mais para comemorar. O
programa e a apresentadora serão homenageados no Primer Congreso
Latinoamericano de Defensorías de Las Audiencias, em Buenos Aires.
Organizado
pela Defensoria do Público da Argentina, organismo criado pela chamada
Lei de Meios, que tem o papel de fiscalizar o respeito aos direitos
humanos na mídia daquele país, o encontro reúne ouvidores e
representantes de empresas de comunicação de países como Canadá, México,
Equador, Colômbia, Argentina e Brasil. Em Buenos Aires, eles devem
assinar uma carta de compromissos para promover a equidade de gêneros e a
não violência contra as mulheres.
A escolha da data do encontro e dos homenageados foi proposital, pois nos anos 1990 o aniversário do Viva Maria
inspirou a criação do Dia Latino-Americano da Imagem da Mulher nos
Meios de Comunicação, também comemorado em 14 de setembro. Hoje, a data
integra o calendário oficial da ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas
para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres.
No
congresso, a apresentadora Mara Régia dará aula magna sobre a trajetória
de luta das mulheres. Surpresa com a homenagem, ela contou que deve
abordar também “como, a partir da voz das mulheres nos meios de
comunicação, você muda a sociedade e constrói uma cultura de afirmação
dos nossos direitos”.
A apresentadora relata que os anos de produção do Viva Maria
mostraram como comunicação e direitos estão relacionados. Surgido,
inicialmente, a partir da indignação de pessoas que “se revoltavam com a
forma como a imprensa se portava quando a vítima era mulher”, o
programa radiofônico contribuiu para tornar direitos conhecidos. E mais:
buscou estimular a auto-organização das mulheres, especialmente na
região coberta pela Rádio Nacional da Amazônia.
A
mídia não passou ilesa das críticas da apresentadora, que milita em
prol das mulheres desde 1976, quando vivia em Londres. “Nós sempre
falamos da violência que a mídia patrocina, usando nosso corpo para
vender cerveja e até feijoada”, conta.
Em Brasília, o trabalho de
Mara extrapolava os estúdios da rádio, mesmo à época em que o programa
era levado ao ar, ao vivo, de segunda-feira a sábado, por três horas
diárias. “Saía da rádio para bater panela em defesa da aprovação da
licença paternidade, da licença de 120 dias [para as parturientes] e da
abertura de creches”, diz a apresentadora, que destaca também as
dificuldades do percurso.
Um dos momentos difíceis foi em 1990,
quando, no âmbito da reforma administrativa do então presidente Fernando
Collor de Melo, Mara Régia foi afastada da Rádio Nacional.
Então, ela encontrou apoio no movimento feminista latino-americano e
passou a produzir rádio na rua, a buscar patrocínio para veiculação do
programa em emissoras comerciais. Tudo para não tirar a atração e o seu
conteúdo crítico do ar.
Hoje, além das rádios vinculadas à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o programa é veiculado por cerca de 1.500 emissoras que têm acesso a ele por meio da distribuição da Radioagência Nacional. A busca pelo conteúdo dele é um indício de permanência dos problemas e das lutas que reporta.
Por isso, na Argentina, a EBC
deve subscrever a carta de compromissos do congresso, que sugere,
dentre outras medidas, o desenvolvimento de ações conjuntas para
conscientizar, sensibilizar e promover a equidade de gêneros e propiciar
reflexão sobre o uso de linguagem não sexista, inclusiva e respeitosa,
na comunicação.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-09/programa-viva-maria-da-ebc-completa-33-anos-e-e-homenageado-na-argentina
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