
Em Vargem Grande, no interior estado, esses trabalhadores não são
apenas números ou percentuais. Eles têm nome: José, Genival, Mateus,
Sebastião, entre outros. A Agência Brasil e a TV Brasil
visitaram dois povoados na zona rural da cidade, Riacho do Mel, com 68
famílias, e Pequi da Rampa, com 42. Em todas as casas, há algum morador,
parente ou amigo próximo que deixou a comunidade para se submeter a
péssimas condições de trabalho.
As histórias se repetem. São a falta de oportunidade no povoado e a
vontade de melhorar de vida que levam os trabalhadores a ir para estados
como São Paulo, Pará, Mato Grosso e Goiás. Grande parte trabalhou e
trabalha no corte da cana. Na maioria dos casos, antes de deixar as
comunidades, eles sabem das longas jornadas e das dificuldades que
encontrarão. Mas acreditam que o esforço dos anos fora é compensado pela
geladeira, televisão ou moto - objetos mais cobiçados - que compram
quando voltam.
Na zona rural de Vargem Grande, as principais fontes de renda são a
roça e o babaçu. Com o dinheiro que se ganha, não é possível comprar
mais do que o necessário para viver e sustentar a família. Na cidade,
também não há muita oferta de emprego, o município tem um dos 300 piores
índices de Desenvolvimento Humano, ocupa a 5.293ª posição em um ranking de 5.565, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. A renda por pessoa é R$ 165,37 por mês.

Em São Paulo, Genival dividiu um quarto com quatro pessoas. Ele
acordava às 2h para fazer comida e pegar o ônibus às 5h. Trabalhava até
as 16h. Quando chegava ao barraco - como ele mesmo define - onde morava,
ainda lavava a roupa e fazia o jantar. Desse tempo, ele guarda duas
fotos, pelas quais pagou R$ 8. “As fotos são do dia 15 de agosto. Foi o
dia em que o facão caiu da minha mão. Fazia muito frio, não consegui
segurar”. Quando voltou para a comunidade, Silva casou-se e teve uma
filha. Para ele, esse trabalho ficou para trás.

“Eu tinha uns parentes que foram para lá e chegaram com algum
dinheiro. A gente fica com aquela vontade de ir também e conseguir
alguma coisa. Porque aqui não tem serviço, não tem emprego. Vamo pra lá
por conta disso”, diz Reis. Ele e o irmão Matias estão de volta. Maria,
no entanto, aguarda o retorno de Ananias, há cinco anos em São Paulo.
“Se fosse por mim, eles nunca tinham ido, mas querem dinheiro. Não posso
privar. São de maior [maior de idade]. Mas, fico preocupada demais”,
diz a mãe.
Ir é fácil. Os chamados gatos são acessíveis na cidade, eles são
responsáveis pela comunicação entre as empresas e os trabalhadores.
“Toda sexta-feira sai um ônibus ali da avenida [BR - 222] cheio de gente
e vai deixando. Deixa em Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, onde
eles acham lugar para ir trabalhar”, diz Maria Helena da Silva, moradora
de Pequi da Rampa e integrande da Cáritas, entidade vinculada à Igreja
Católica, que atua no combate ao trabalho escravo na região.
De acordo com Helena, os principais destinos são São José dos Campos
(SP), para o corte da cana, e Ribeirão Preto (SP), para a construção
civil. Outro destino comum é Rio Verde (GO). “Tem uma rua lá onde todo
mundo é de Vargem Grande ou Nina Rodrigues [município vizinho].
Trabalham lá no que o pessoal de Goiás não quer de jeito nenhum. Aí eles
chamam as pessoas do Maranhão”, diz. A principal atividade em que atuam
é o abate de frango.
Edição: Fernando Fraga
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-10-06/maioria-dos-trabalhadores-resgatados-em-trabalho-escravo-e-do-maranhao
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