terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nos 20 anos da PORTFOLIM, o Calendário Revolta dos Búzios

A PORTFOLIUM Laboratório de Imagens está completando 20 anos. Fundada em janeiro de 1992, por mim e pelo fotógrafo Josias Santos, desde o início trabalhamos com a linguagem visual buscando contribuir com a valorização da memória dos movimentos sociais, na Bahia e no Brasil. Certamente que não tem sido fácil manter ativa e digna uma peque
na empresa ousada, cheia de sonhos e rebeldias, nestes tempos de domínio quase absoluto do “mercado” e do “sistema”, novos eufemismos que denominam o velho e carcomido capitalismo.

Contudo, ao olhar para trás, o sentimento é de um imenso orgulho com o já produzido. Foram três filmes longa metragem: Paixão e Guerra no Sertão de Canudos (1993), Quilombos da Bahia (2004) e Abdias Nascimento Memória Negra (2008), já vistos por centenas de milhares de pessoas, porquanto mais de 30.000 cópias numeradas circulam pelos rincões afora. Além dos filmes longas, promovemos muitos cursos de fotografia (na saudosa época dos banhos químicos) e editamos livros, revistas e nove Calendários de Parede.

Em 2012 a PORTFOLIUM apresenta um novo Calendário, desta feita com o tema Revolta dos Búzios, que inspira um projeto mais abrangente, cuja ponta é um filme documentário longa metragem, atualmente em fase de produção. A Revolta dos Búzios, também chamada de Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana, Sedição de 1798 e Inconfidência Baiana, é um movimento que ocorreu na Cidade do Salvador, capital da Província da Bahia, no ano de 1798. Possui importância ímpar para a história política do país, visto que já nesta época os conspiradores baianos, influenciados pelas ideias iluministas da Revolução Francesa (1789), planejaram um Levante que pretendia derrubar o Governo Colonial, proclamar a independência e implantar uma República democrática, livre da escravidão, onde haveria “igualdade entre os homens pretos, pardos e brancos”.

Esta “tentativa de independência do Brasil” foi denunciada antes da deflagração e o governo instalou uma Devassa que, durante 15 meses, convulsionou a cena política da Bahia, atingindo centenas de pessoas com ameaças, interrogatórios, detenções, condenações de açoites públicos, prisões, degredo perpétuo, e até a pena de morte, sentença máxima que se abateu sobre quatro homens negros: os soldados Luiz Gonzaga (36 anos) e Lucas Dantas (23 anos), e os alfaiates João de Deus (27 anos) e Manoel Faustino (22 anos), enforcados e esquartejados em 8 de novembro de 1799 na Praça da Piedade, em Salvador.

Junto a estes quatro mártires, temos o dever de consciência de acrescentar o nome de Antonio José, escravo boleeiro de um tenente coronel, que ordenou sua prisão. Antonio era homem ativo na conspiração e deu entrada na Cadeia Pública em 28 de agosto de 1798. No dia seguinte, ainda cedo, foi encontrado morto em sua cela, com um punhado de comida na boca e o corpo apresentando evidentes sinais de envenenamento. A notícia da morte logo se espalhou na cidade e as muitas bocas nas conversas diziam que Antonio foi assassinado para garantir o silêncio. Antonio José, portanto, é o quinto mártir da Revolta dos Búzios.

A Revolta dos Búzios é uma história que precisa e merece ser conhecida mais amplamente, saindo das sombras das efemérides oficiais. E por louvável iniciativa da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, que adquiriu uma cota exclusiva, o calendário (13 páginas, 43 x 64 cm) está sendo distribuído em todas as escolas públicas do estado.

Antonio Olavo
portfolium@portfolium.com.
br

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